1.10.17

Verbo: Recomeçar

Um verbo que me sugere balanço e impulso, precedidos por um respirar bem fundo. Na vida, há incontáveis recomeços. Às vezes, muitos mais do que realmente seria necessário ou desejável. Associo-os, inevitavelmente, à aprendizagem, ou pelo menos à tentativa da mesma, visto que a julgar pelo número de vezes que conjugamos este verbo, é evidente que a maioria das ditas cujas aprendizagens apenas pseudo-existiram. Estes "ensaios" são importantes, é um facto, conquanto se apresentem como esboços de uma obra-prima. O primor ou o sentido de desafio/compromisso é o que largas vezes leva o artista a recomeçar ou a refazer uma peça que, na sua mente e coração, ainda não está completa. E porque a excelência não está na singularidade mas na profundidade do que fazemos ou procuramos, vivemos neste pára-arranca.
Contudo, gosto de alimentar em mim a ideia de que a tal aprendizagem que nos convida a conjugar um outro verbo chamado refazer, não acontece sem antes se dar um processo, também ele, potencialmente doloroso chamado reflexão. A ter de sintetizar, eu diria que a ordem convém ser: refletir, aprender e refazer. Inspecionamos os pincéis, limpamo-los a rigor, combinamos e apuramos novos tons e seguramos o pincel firme e pausadamente, antes de manchar a nova tela. Nisto tudo, há duas certezas incontornáveis: uma, é que não há dois ensaios iguais; e outra, que não está nas nossas mãos o poder de apagar anteriores capítulos. Portanto, ajuizadamente refaçamos histórias, cheias de propósitos dignos. 
Toda esta divagação serve, tão somente, para marcar o meu regresso a esta prática de forçar as palavras que, de há uns anos para cá, tornaram-se preguiçosas e, às vezes, desengonçadas. Convenci-me de que posso ser uma refazedora. Quanto à excelência do que por aqui vou deixando, é sempre relativa e discutível! Considerem-se advertidos.

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