4.11.14

Onde estou mesmo?

Chegámos há dois dias. Ainda tenho o pensamento pelas ruas de Berlim, o coração na casinha que lá deixámos e os ouvidos naquela língua áspera (mas já relativamente familiar). Ouvir o português pelas ruas nunca me soou tão estranho e não ter constrangimentos linguísticos nunca me pareceu tão fantástico. A sensação é a de que não há nenhuma dificuldade que seja realmente intransponível! A falar é que as pessoas se entendem, já diziam. 
Em contrapartida, não é fácil baixar a guarda até porque me parece que, a qualquer momento, tudo volta ao normal. Esta simplicidade que de repente se nos apresenta, desperta em mim um estado de alerta, à espera do resto que sempre acaba por vir. São os traumas positivos resultantes da nossa emigração. E digo positiva porque a nossa experiência foi muito superior e abençoada, comparada à de tantos outros nas mesmas circunstâncias. 
Este não é tema que goste particularmente de abordar, porque reconheço haver demasiados generalismos para o meu gosto e eu nunca gostei de moldes.
Naturalmente que, se numas áreas a coisa simplifica-se, noutras voltamos a encontrar os mesmos "buracos" que existiam antes de irmos. Este invariável facto de Portugal se manter igual com o passar do tempo. Muito muda, mas no fundo tudo permanece igual. Para muitos este será um conforto na hora do regresso, para outros nem por isso. Eu ainda não me decidi. Vou demorar um bocadinho a assimilar tudo, combinado?
A verdade é que este país simples e modesto, na cauda da Europa, à beira-mar plantado, tem mil e um deleites para oferecer. O meu primeiro foi ir comprar fruta e legumes. Bom, de momento não temos um supermercado a 4 minutos a pé de casa, em que posso caminhar e trazer as compras fresquinhas aos ombros ou no carrinho de compras. Como eu gosto! Agora dependemos do carro para trazer tudo em sacos de plásticos (oferecidos aos molhos - ainda se usam por cá...) até casa. O voltar a ficar de certa forma dependente, causa-me alguma estranheza e desconforto. Admito. No entanto, não me recordo da última vez que rumei feliz da vida de volta a casa com uma tonelada (quase literal) de fruta e legumes, que me custaram apenas 25 euros!! Estes "pequenos" detalhes servem-me de âncora, no meio de toda esta ondulação. E o feliz que eu fico com tanta cor a entrar frigorífico adentro?
Assim sendo, o meu objectivo nas próximas semanas será encontrar mais âncoras e lançá-las à água. Estou a precisar.

1 comentário:

  1. Buscar alegria no céu e não nos sítios ou circunstâncias, uma tarefa para todos, fiquemos ou partamos para outros locais.

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